JUSTIFICATIVA:


A Capela Senhor do Bom Fim foi construída por João de Camargo, nascido escravo, considerado milagreiro e de forte liderança negra. É localizada na Av. Barão de Tatuí, no. 1083.

A primeira capelinha foi erguida em torno da cruz de Alfredinho, na altura da esquina da hoje rua João de Camargo com a avenida Barão de Tatuí, em 1906. Logo após, construiu-se um pequeno cômodo para servir de cobertura a um poço.

Já no ano seguinte, em virtude do grande movimento provocado pelos fiéis que acorriam ao local, foi providenciada a construção de uma capela maior, em frente da outra. Esta é a Capela que, acrescida de várias reformas, a partir de 1908, ainda hoje existe e serve de ponto de culto e romaria aos crentes de todas as partes do País.

O conjunto é formado pela Capela principal com seus altares laterais, arco cruzeiro e altar-mor, Sala Lateral, onde são preservados instrumentos da Corporação Musical São Luís e a mobília pertencente ao Monsenhor João Soares, adquirida por João de Camargo. Seguindo à Sala Lateral, tem-se acesso à outra maior onde funcionou a Escola Mista. Hoje abriga pequeno auditório para as reuniões da Associação.

Ao fundo da Capela principal, encontra-se a Sala do Bom Conselho do Bispado Amaral, abrigando imagens e fotos de personalidades sorocabanas como de Dr. Braguinha, Inácio Pereira da Rocha, Monsenhor João Soares, e outras. Em seguida a esta, outra sala preserva Todas as salas são interligadas por pequenos e estreitos corredores internos que facilitavam a circulação de João de Camargo em suas atividades.

O quarto que pertenceu a João de Camargo, com sua cama, guarda-roupa, objetos, sapatos e roupas continuam preservados.

Nascido escravo, João de Camargo era um religioso, considerado santo popular, milagreiro e de forte liderança negra. Teve educação católica vinda dos seus senhores, mas também foi influenciado pela sua mãe com práticas religiosas de origem afro-brasileiras.

Veio para Sorocaba após a abolição, em 1888. Em 1906, após uma visão, dedicou-se ao projeto de criar sua igreja e auxiliar as pessoas.

Com a ajuda de familiares e pessoas, ergueu a capela, às margens do Córrego Água Vermelha. A igreja contrariava padrões estabelecidos, era lugar para todas as crenças, sem descriminação. O variado número de símbolos religiosos no interior da capela, provam a intenção de unificar todos os credos, seja da cultura branca, negra ou indígena.

Devido à sua popularidade, dons espirituais, conselhos, intervenções sobrenaturais e de cura, muitas pessoas começam a procurá-lo e diversas famílias negras passam a viver na localidade. Sofreu muitas perseguições, foi preso por curandeirismo e perturbações públicas e teve a igreja fechada diversas vezes. João de Camargo morreu em 1942 e, até hoje, a capela atrai grande quantidade de pessoas do Brasil e do exterior.

Nascido em Sarapuí (cidade que antigamente fazia parte de Sorocaba) no dia 5 de julho de 1858, o ex-escravo João de Camargo tornou-se um líder religioso da maior expressão, não apenas em Sorocaba, como em regiões vizinhas, distantes, e mesmo no Exterior, adquirindo fama em todo Brasil.

Nascido escravo, herdou o sobrenome de seu antigo dono. Após a Lei Áurea, foi liberto e mudou-se para Sorocaba, onde foi cozinheiro, militar, trabalhador de lavoura e de olarias. Saiu da cidade por duas vezes, onde, numa dessas vezes, conheceu Rosário do Espírito Santo, que veio a ser sua esposa. Porém, ambos viveram juntos por apenas cinco anos, logo se separando.

Desde jovem recebeu muitas influências religiosas, das religiões africanas, através de sua mãe, e do Cristianismo, através de sua sinhazinha Ana Teresa de Camargo e do padre João Soares do Amaral. Através dessas diversas influências, sua fé tornou-se uma espécie de sincretismo entre várias religiões.

Nhô João, como mais tarde viria a ser chamado, segundo seus devotos, já praticava curas desde 1897. Porém, durante a vida, teve muitos problemas com o alcoolismo, que o impediriam de assumir plenamente sua missão.

Em 1906, teria tido uma visão, do menino Alfredinho, que o curou do vício na bebida, fazendo-o dedicar-se completamente ao projeto de criar a sua igreja, no distante bairro das Águas Vermelhas. Processado por curandeirismo em 1913, Nhô João decidiu, para proteger a nova religião, registrá-la oficialmente como Associação Espírita e Beneficente Capela do Senhor do Bonfim, reconhecida como pessoa jurídica em fevereiro de 1921.

A Capela de João de Camargo (Capela Senhor do Bom Fim) foi tombada em 1995 pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Artístico, Arquitetônico, Turístico e Paisagístico de Sorocaba (Processo de Tombamento nº 19.298/1995 e Resolução de Tombamento - Decreto nº 9.883/1995).

Passou por um intenso processo de restauração e continua recebendo diariamente expressivo número de visitantes.

Por derradeiro, cientes da importância de promover e proteger a história do nosso povo pretende-se com a presente propositura legislativa o reconhecimento e a consequente declaração da Capela Senhor do Bom Fim, construída por João de Camargo, como Patrimônio Cultural Material da cidade de Sorocaba.